Aparentemente a noite parecia promissora, pois eu e Giovanni tínhamos dois programas a escolher, dois EXCELENTES programas, equiparáveis apenas à grande fome dos Ucranianos há alguns anos – como eu e Stalin ríamos! Ah, os bons tempos – podíamos ir ver o Stereoscope no Espaço Cultural Cidade Velha ou ver a tríade Sincera/Jonnhy Rockstar/Aeroplano no Caverna Club.
Sinceramente, o Caverna não me atrai muita simpatia, principalmente depois de um certo assalto que teve por lá faz uns meses e sou um particular fã da Praça do Carmo e seus bares caros, sujos, com mau atendimento e uma freguesia bizarra que é constantemente atormentada pelos mais diversos mendigos, portadores de praticamente todos os distúrbios emocionais do CID-10, tudo isso ao redor de construções de séculos passados condenadas a um fim trágico na mão de donos inescrupulosos que não notariam a queda da parede do próprio quarto.
É praticamente um quadro do Salvador Dalli. Acreditem.
Portanto, resolvemos ficar bêbados discutir as vantagens e desvantagens do Manifesto Comunista sobre o Mein Kempf no Carmo, enquanto éramos incomodados éramos recebidos por um bêbado irritante que guardava uma “buchudinha” na cueca importante embaixador local, que nos cumprimentava saudosamente.
De qualquer forma, nossa empreitada nos levou a chegar no Caverna (sim, não iríamos pagar o mesmo preço de três bandas para ver apenas uma) um pouco mais tarde e assim perdemos Sincera e quase todo o inicio do Aeroplano.
Que peninha.
Mas isso não me impede de fazer uma resenha parcial do que eu vi do Aeroplano e sobre o show na íntegra do Jonnhy Rockstar. Aliás, apenas a minha preguiça me impediria de também fazer comentários maldosos e desnecessários sobre o show do Sincera que sequer vi. Vantagens de ser do PC,creio eu.
Aeroplano
A única reação que tive do show do Aeroplano foi ter ficado surpreso de não ter conseguido ficar com nenhuma impressão do show. Nada. Nem positivo, nem negativo. Eu via coisas que atraíam a minha atenção e outras que achava essencialmente idiotas, mas que não comprometiam muito a qualidade da banda, assim como não faziam nada para melhorar.
Eis, na minha opinião, um estado muito perigoso para uma banda – ou qualquer coisa, na verdade – de se estar: no meio do caminho entre ótimo e horrível. Imaginemos a seguinte metáfora: Após comer um delicioso prato, a lembrança deste poderá variar de algo muito agradável até uma compulsão que só cessará quando o mesmo prato for consumido de novo. Do outro lado, um prato detestável e putrefato causará repulsa logo na primeira colherada, podendo provocar do simples nojo até um jorro incessante de líquido estomacal na parede mais próxima. A mera lembrança desta garfada provocará náuseas em você e nada que guarde a mais pequena semelhança com o prato original poderá ser engolido sem alguma ansiedade.
Tudo acima citado, para o bem ou para o mal, causam grandes impressões ao indivíduo. Agora, e aquele PF que você come no bar da esquina, que serve apenas ao propósito da nutrição, pois seu gosto não parece nada fora do comum, possui força o bastante apenas para lembrá-lo de que aquilo é de fato comida. Após escovar os dentes e se livrar do que quer que tenha sobrado da refeição no paladar, você simplesmente esquecerá aquele prato, sequer lembrará se era galinha ou salada que comeu. É simplesmente desprezível. Dentro de alguns dias simplesmente sumirá da lembrança qualquer vestígio daquela refeição.
Bom, isso que o Aeroplano é: Um PF de Carne Assada do bar da esquina.
Músicas facilmente esquecíveis, sem grandes reviravoltas, apesar de algumas boas harmonias e algumas sacadas inteligentes, mas nada que vá fazer aquela música importante para algum momento da sua vida. Creio que “Festa no Apê” tem mais coeficiente de importância que as músicas do Aeroplano, que se encontram no Limbo das músicas autorais.
Jonnhy Rockstar
Uma banda de Rock com um conceito progressivo no seu show: Tocaram apenas uma música no show inteiro, que variava sobre o mesmo tema diversas vezes, fazendo voltas sobre riffs passados e…
(cochichocochicho…)
Hã…? Não era uma música, só?! Mas eram todas iguais!
Essa é a minha impressão sobre o Jonnhy Rockstar. Algumas músicas chegavam até a serem consideradas razoáveis, muito graças ao trabalho vocal da banda que me pareceu bem adequado a sonoridade que eles se propõem fazer, mas depois de algumas músicas e a percepção da autocópia a qual a banda se submetia, se tornava uma tortura à minha paciência como apenas “minesweeper” poderia ser.